Apagando rastros, deixando cada passo para trás, ousaria fazer perguntas em profundo silêncio. Não faz, não pela solidão, mas porque já não importam mais as respostas. 

 

Importa algo que não está posto. Importa algo que não interessa aos outros. Dentro, ali, são acumuladas as histórias que interessam arranjadas de forma que caibam em algo que se mova sozinho, que acompanhe o tempo, que aceite o novo.

 

O que fica para trás já não precisa mais respeitar espaços e vazios. O que fica para trás já não merece mais pequenas delicadezas. O que fica pra trás vira apenas geologia: faz parte da estrutura, mas não se faz mais questão de escavar quando já está documentado.

 

Dia desses tapou o umbigo, estufou o peito, e vestiu coragem. Não sem medo, nem inteira; aos pedaços deu um passo e depois outros. Fazendo barulho, sacudindo pedras, resultando em estrada e caminho. 

 

Cada vez que o ar lhe falta ou que o estômago ronca, pensa: estou morrendo. Não sabe que, logo ali, novos ares e outros sabores preencherão seus espaços. Sempre haverá vazio. Sempre haverá cheio.

 

Dói porque está nascendo. Saindo da buceta do mundo para uma vida em que escolhe pra onde ir. Onde aceita a natureza de ir. Onde o ar preenche os pulmões e depois escapa. Enche, vai embora. Enche, segura, vai embora em pequenos buraquinhos. 

 

O que ficou para trás é ancestralidade, é parede que foi rosa e amarelo, virou branco e, quem sabe, lá na frente, alguém vai escolher aquele azul horroroso. Já não importa mais. Aqui, agora, carrega todas as cores do mundo.